Avistei aquele rebanho...
Haviam cercas por todos os lados,
e os gados ali, cercados.
Os homens haviam cercado muito bem
aqueles gados.
À noite se reuniram em volta de uma
grande fogueira,
Como era de costume.
Então no meio da conversa um indagou:
- Quem está cercado aqui?
A pergunta desnorteou todos.
E a resposta imediata do grupo foi:
- Ta maluco!?
O fazendeiro filósofo riu e retrucou:
- Será que eu sou o maluco?
Imperou o silêncio...
E aí ele chorou.
E disse em um tom alto, grosso sério e
pontual:
- Passamos nossas vidas vigiando os gados.
E eles não estão nem aí. Eles são gados e continuam livres independentemente de
nossas cercas e atos. Nós somos os merdas aqui! Nós somos os reais prisioneiros!
Se o gado compreendesse nosso ato ele
entenderia como maldade, e jamais seria “o gado” novamente. Seria meio homem!
Seria meio mal! Então ele “escolhe” ser livre. Livre de nós! Estamos aqui
cercando apenas a nós mesmos.
Imperou o silêncio...
Todos se entreolharam...
E choraram...
Num choro tão másculo e humano como
nunca vi.
Realmente homens não choram. Homens
derramam poesia por seus olhos.
Então no mesmo silêncio e sem um
verbo que desse conta desse momento, todos e ao mesmo tempo abriram a porteira.
Então aquele fazendeiro filósofo disse
ainda:
- Não esperem gratidão dos gados
também não. Ou incorreriam no mesmo erro. Apenas sejam livres, livres juntos
com seus irmãos gados.
Os homens secaram as lágrimas e ainda
meio perdidos se mantiveram mudos.
Então um gado mugiu... Parecia
agradecer.
Naquela fazenda ficou estabelecido
que os gados só poderiam ser abatidos por meio da caça, e que nunca mais de um
vaqueiro poderia caçar ao mesmo tempo o mesmo gado.
Naquela noite não foram os gados
livres, não foram os gados que ganharam a liberdade. Mas sim, alguns vaqueiros.
Vaqueiros que conheceram a filosofia e seu objetivo de sempre: A LIBERDADE.
Rodrigo Jorge Bucker
- 2012