Eu trabalho pra caralho e essa porra de cigarra não faz nada.
Eu ralo pra cacete e ela é que vive sorrindo e curtindo.
Eu ganho dinheiro com meu suor e ela é quem parece melhor.
Que porra de cigarra é essa!?
Vai se fuder! Você vai ver!
Um dia vai querer comer e não vai ter.
Passaram 15 anos então...
A formiga saiu pra trabalhar nesse dia
e de repente percepeu que não mais ouvia aquela música da tal "vadia".
Primeiro ela sorriu e sem culpa gritou:
Viu sua puta!
Não disse que ia morrer.
Passaram alguns minutos e tudo quieto...
A formiga começou a perceber algo estranho...
O que lhe movia todos os dias ao trabalho, e a mantia ali trabalhando duro, era aquele som, um som... um tanto maduro e profundo.
Esse som parecia clarear
o escuro no qual a formiga ia trabalhar todo dia antes do sol raiar.
O som da cigarra! Pensou ela, e gritou:
Maldita cigarra!
hhhhaaaaaaaaaaaaaa....!
A formiga se desesperou e gritou muito alto:
Me desculpa! Me desculpa!
Sua puta, não morra!
Correu pra casa da cigarra...
E quando lá chegou a encontrou caída no chão.
E indagou a ela:
O que faz aqui no chão?
Foi então que a cigarra riu, olhou pra formiga e disse:
Só canto pra quem tem coração
e sabe o valor da minha canção!
Só canto pra quem vi agora em pranto
molhar o chão por mim então!
Sempre cantei pra você poder trabalhar e ajudar do meu jeito
a nos sustentar.
Sempre soube que não ia aguentar
trabalhar um dia se quer
sem dançar.
Qua qua qua...
Vamos bailar!!
Então hambas aprenderam que trabalho não é apenas o evidente
e sacrificado aparente.
E que como toda gente,
vivem em sociedade, e ninguém pode dizer onde o calo de cada uma aperta mais.
"O gramado do vizinho sempre parece mais verde".
Mas é que simplesmente está mais longe da visão do outro, que apenas o vê por cima do muro.
Podem acreditar a vida é dura para qualquer um,
e a única bravura
é cada um ficar na sua loucura.
Raulzito S. Além - Rio de Janeiro 2012